Gritos alados
levantando os braços enferrujados
no meio de arbustos sombrios
e sentindo o frio na espinha dorsal!
Pés de barbas de bode enegrecidas
dançando no ritmo arguto do fogo canibal!
Gritos alados
espreitando a floresta indefesa
e aguardando, resfolegados, a sombra de um assobio -
assistindo sequoias centenárias gritando ao vento
e beijando o chão cheirando a cinzas...
Gritos alados
chorando a saudade crucial dos passarinhos
erguendo as casinhas de joão-de-barro
no balançar frêmito dos cataventos angustiados!
Gritos alados
esvaindo o seu sangue nas motoserras esquivas
e deixando seus pedaços em serras elétricas pontiagudas!
Gritos alados
perdendo-se nos rios secos e nas margens empoeiradas
ainda tentando encontrar um mar de olhos conscientes!
Gritos alados
navegando em folhas de flores secas
e chegando ao topo do mundo, incrédulos,
onde ecoam tristemente, em vão
pela surdez inválida dos homens - abutres da Terra!
JOSÉ AGNALDO FOGAÇA
OBS: Poema construído por ocasião da morte de Chico Mendes (1988)
Nenhum comentário:
Postar um comentário