sexta-feira, 12 de maio de 2017

METÁFORAS


As matas, as florestas desvirginadas e os bosques
haviam perdido os seus fulgores!
Há muito tempo que o homem tinha arrancado de suas entranhas
o brilho agreste do verde e o cantar sibilino das folhas...
E a natureza, essa vã e misteriosa mãe, transformara-se em habitante de ficção.

Eu, humanoide jardineiro deste precioso jardim,
o único que ainda resta, choro por todos os nossos pecados
porque faço parte dessa praga, ambiciosa e opressora!

Meus soluços se confundem com o vegetar supremo das flores...
O silêncio é póstumo e as rosas possuídas não ornamentam mais qualquer vaso,
nem os seus próprios vasos sanguíneos!
A fotossíntese se desgarrou e deixou de ser um fenômeno...
Há uma cor ocre no ar!
Parece mesmo que alguém está morrendo!
Seriam as sempre - vivas?
Num canto, mirradas, as madressilvas  rezam...

E quando da minha mão a última gota de decência cai nos olhos do alecrim,
e vejo os copos -de -leite afogarem-se em lágrimas, compreendo tudo:
- Nada mais me resta!
Nem mesmo uma dama -da- noite para cobrir, com seu véu de crisálidas fluorescentes,
o meu túmulo triste... sem cravos na lapela!

JOSÉ AGNALDO FOGAÇA  
 

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