Ressoam trombetas nos cemitérios da China ---
confundidos vozes, incensos e flâmulas brancas, vermelhas de sangue
com suas gotas inóspitas
refletidas no espelho cruel da agonia e desfilando no silêncio póstumo da liberdade,
a alma bélica da Pátria impura ---
que reclama por seus filhos indignos que alimentam
apenas os cemitérios da China!
Ressoam trombetas nos cemitérios da China
expelindo corações sublimes de guerreiros sem armas
em gritos roucos amordaçados por fuzis e celas
e alvejados por tiros pagos com o preço da infâmia,
coberta por símbolos fálicos de eterno pranto
que desnudam as vestes triunfais que emolduram
apenas os cemitérios da China!
Ressoam trombetas nos cemitérios da China,
amaldiçoando os sonhos etéreos da democracia abortada
que tenta com a palidez das sombras
soterrar as esperanças seculares...
E deixando escapar incólume uma fresta de força misteriosa
por entre os dedos que coagulam suas cicatrizes
e esperam outra vez a hora fatídica
prontos a despir o luto da paz
rasgando para sempre o véu da tirania,
ainda que sobrevivam
apenas os cemitérios da China!
JOSÉ AGNALDO FOGAÇA
As matas, as florestas desvirginadas e os bosques
haviam perdido os seus fulgores!
Há muito tempo que o homem tinha arrancado de suas entranhas
o brilho agreste do verde e o cantar sibilino das folhas...
E a natureza, essa vã e misteriosa mãe, transformara-se em habitante de ficção.
Eu, humanoide jardineiro deste precioso jardim,
o único que ainda resta, choro por todos os nossos pecados
porque faço parte dessa praga, ambiciosa e opressora!
Meus soluços se confundem com o vegetar supremo das flores...
O silêncio é póstumo e as rosas possuídas não ornamentam mais qualquer vaso,
nem os seus próprios vasos sanguíneos!
A fotossíntese se desgarrou e deixou de ser um fenômeno...
Há uma cor ocre no ar!
Parece mesmo que alguém está morrendo!
Seriam as sempre - vivas?
Num canto, mirradas, as madressilvas rezam...
E quando da minha mão a última gota de decência cai nos olhos do alecrim,
e vejo os copos -de -leite afogarem-se em lágrimas, compreendo tudo:
- Nada mais me resta!
Nem mesmo uma dama -da- noite para cobrir, com seu véu de crisálidas fluorescentes,
o meu túmulo triste... sem cravos na lapela!
JOSÉ AGNALDO FOGAÇA