Minha cidade de ruas tão pequenas
sem quintais afogados
acolhe corações em fim de jornada,
crianças rotas e arredias,
pescadores simplórios,
heróis de botequim.
Minha cidade de fábricas obsoletas
cheia de boias-frias orvalhados
dorme cedo sem os madrigais de alcova
e nenhum espírito se levanta
enternecido pelas procissões bucólicas
à procura de um nome.
Minha cidade às vezes cheira fezes ressequidas
dos cultivos de meia estação e uvas de festa.
E todo o povo se alimenta de histórias mal contadas
de boatos que criam asas e de lendas
que aqui ganham contornos felinianos
e desfilam pelas estradas carcomidas.
Minha cidade não mora em qualquer mapa
mas abriga impiedosamente o meu sorriso
entre sonhos e receios de futuro
e a vontade sublime de paz
perdida nos bancos vazios das calçadas
evocando estrelas e preces!
JOSÉ AGNALDO FOGAÇA
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