quinta-feira, 13 de abril de 2017

"MEMÓRIA DE SANDY TRINDADE"

Quase não conversávamos... mas a última vez em que nos falamos, ele esteve em minha casa.
Usava bermuda soft e brincos na orelha, notadamente bem grungue, combinando com sua jovialidade.
Uma semana depois ouvi boatos que acabaram, tristemente, confirmando-se... Ele havia morrido, vítima de overdose!
Eu nunca soube explicar, mas quando eu era tomado de assalto por uma notícia assim... fatal, o primeiro sentimento que me invadia era o da excitação. 
Ficava naquela ânsia incontrolável de passar a novidade avante, como se a morte fosse alguma boa nova a ser compartilhada.
Hoje, graças a Deus, pelo menos eu consigo me entender: a pseudo - excitação, na verdade, trata-se da celebração de nossa existência, um tributo à vida que nos foi doada pela magnitude de Deus Pai!
É essa dádiva que todos os jovens deveriam entender ao aproximar da boca o primeiro cigarro de maconha; do nariz o primeiro filete de pó de cocaína ou heroína, LSD, crack e outras "bostas que inventaram" (sic) para destruir uma geração que ainda não adormeceu!
Os sonhos precisam ser vivenciados de forma total, sem qualquer espécie de alucinógeno.
É preciso encarar o mundo, o país, os pais, os amigos; enfim, a "divina comédia", sempre com a mente completamente translúcida, com todos os nossos medos e angústias, com todos os nossos erros ou virtudes. (...)
Jamais esquecerei os jovens abestalhados, sentados nas calçadas da rua, aguardando a chegada do amigo dentro de uma esquife, nem tampouco o olhar da mãe tentando agarrar no ar um gesto de consolo!
Dentro da casa, sob a luz das velas acesas, ouço a voz do tio que profetiza: - que pena que sua morte nem ao menos vai servir de exemplo para toda essa Juventude... Ninguém vai parar de usar drogas. O mundo vai apodrecer cada vez mais!
(...) Ele estava coberto de razão.

Pouco tempo depois, vítima de overdose, morreu caído na sarjeta River Phoenix, um dos talentos mais promissores que Holywood jamais conheceu... O jovem "Indiana Jones" que foi o anti-herói de suas próprias desventuras!

JOSÉ AGNALDO FOGAÇA

- crônica publicada no extinto jornal "A Hora de São Miguel Arcanjo", em janeiro de 1998.

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