domingo, 9 de abril de 2017

" VERSOS FÚNEBRES"

Tenho tanto medo de morrer
e de saber que banharão o meu corpo
com o bálsamo da desventura...
e que alguns rirão do meu pênis turvo e encolhido
feito passas retorcidas numa videira sem vida...
e por saber que estarei indefeso,
e não poderei cobrir minha pele flácida
prestes a se enrijecer.

Tenho tanto medo de morrer
e de saber que vou ficar estático no meio da sala
coberto por flores murchas e de perfumes inodoros,
mãos juntas, petrificadas,
rosto embevecido com a palidez mórbida...

Tendo tanto medo de morrer
e de saber que não ouvirei os elogios
que sempre quis ouvir no meu cotidiano!
O realce dos meus dotes histriônicos,
minha estupenda alegria de viver
e a firula para dizerem que todos os meus defeitos cessaram... 

Tenho tanto medo de morrer
e de saber que eu sou tão feliz...
Não rirei das piadas que contarão ao redor da casa
e nem sentirei o cheiro forte do café no coador
aguardando meus amigos
que certamente, depois, fumarão um cigarro!

Tenho tanto medo de morrer
porque quase não pressinto o meu "Deus",
aquele que devo guardar dentro de mim.
Mas o meu medo mais terrível
é o de não descobrir jamais
porque estou aqui...
respirando sentimentos...

JOSÉ AGNALDO FOGAÇA 

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